COMO RESPONDER AO SEMI-ARIANISMO
Deus é único
Embora o
semiarianismo diga que haja “duas pessoas divinas dignas de adoração”, também
afirmam que somente o Pai é o “único Deus”. Se o único Deus é exclusivamente o
Pai, todos que adoram Jesus estariam errados, inclusive o próprio semiarianismo[1].
Pois só há um “único Deus” digno de adoração. Mas a Igreja Cristã sempre adorou
o Filho, Jesus Cristo. Errou a Igreja ao adorar Jesus? Se a Igreja cristã
primitiva adorou Jesus não é porque ele é de fato o “único Deus”?! A Bíblia em
parte alguma sanciona a adoração a dois deuses. Portanto, a única conclusão
possível, em harmonia com a revelação é afirmar que Jesus é o único Deus (junto
com o Pai e o Espírito Santo no mistério da Trindade).
Como os
antitrinitários não aceitam o mistério Trinitariano precisa assumir que o Filho é “outro deus”
distinto do Pai. Por mais que digam que ele é semelhante ao Pai, que tem o mesmo
poder ou natureza divina, ainda assim será outro Deus, pois o conceito que
sustentam do divino Filho é que Ele não é o Deus único, mas um Deus gerado
(nascido); portanto o Filho teve início, o Pai não; assim, o Filho será sempre
um segundo deus, diante do Deus Pai, que é o Deus ingênito e absoluto, que
nunca nasceu e nunca foi causado por outro Deus.
Quantos deuses verdadeiros existem
de fato? Como os semiarianos irão responder “claramente” esta pergunta? Se
disserem que só há um “o Pai”, estará negando o Filho, que também é Deus (João1.
1) e é adorado (Heb.1.6). Seria o mesmo que falar uma meia verdade. Se disserem
“dois”, estão falando uma heresia, pois só há um único Deus verdadeiro (Deut
6.4). Os semiarianos não escrevem em seus livros e web sites que adoram dois
deuses, mas seus ensinos não deixam dúvida; adoram dois deuses. Assim, negam
aquilo que básico na doutrina de Deus, que Ele é único. É incrível como não se
dão conta que “adorar dois deuses” é incompatível com as Escrituras.
Se
há uma doutrina básica na Bíblia esta é que Deus é um ser “único”. Não há dúvida.
O Novo Testamento ampliou o Antigo Testamento em muitos aspectos, inclusive na
doutrina de Deus. Algum pode negar isso? Quantas pessoas divinas eram adoradas
no AT? Uma única pessoa, o Pai ou Javé. Hoje, com a luz do NT, quantas pessoas
divinas um semiariano adora? Duas: o Pai e o Filho. Houve um progresso na
compreensão de quem é Deus? O NT trouxe uma nova luz sobre a doutrina de Deus?
Está provado que sim.
A
Igreja Cristã precisou explicar essa nova prática de adorar a Jesus à luz da
doutrina do único Deus sem entrar em contradição. E hoje, tudo que os trinitários e
antitrinitários disserem sobre Deus, precisa estar em harmonia com a revelação
básica “Deus é único”. Caso o Novo Testamento viesse a ensinar que há outro Deus verdadeiro além do único e verdadeiro
Deus, o Criador; estaria em completa contradição com a Revelação anterior.
Desta forma, toda Revelação cairia em descrédito, pois ela é de Deus e a
verdade não pode ser contraditória. Como os semiarianos dizem que Jesus não é o
Deus único, mas um deus gerado que recebeu sua divindade por concessão (ou
participação) do Pai, logo, creem em dois deuses; Um Deus Pai que gerou outro
Deus, o Filho. São, portanto, dois Deuses. Ao tentar serem fieis ao princípio
do único Deus (é o Pai), e ao mesmo
tempo justificar a adoração a Jesus, não conseguem fazer com coerência e criam
dois deuses.
Vamos tentar ilustrar as duas doutrinas de
Deus. A Trindade diz que “há três pessoas divinas, coeternas; consubstanciais,
compartilhando uma única essência – um só Deus”; e o semiarianismo, que ensina
que há dois seres divinos, o único Deus o Pai e o Filho foi gerado.
Doutrina da Trindade=UM DEUS (TRES PESSOAS)=MONOTEÍSMO
Doutrina semiariana=DOIS DEUSES - MAIS DE UM DEUS=POLITEÍSMO
Que
posição doutrinária se harmoniza com a Bíblia? A Trindade ou o semiarianismo?
Como
saber se uma doutrina sobre Deus é verdadeira ou herética? Primeira coisa a
fazer é descobrir se ela harmoniza-se com a verdade que Deus é “único”. Nenhuma
doutrina verdadeira negará isto. Nenhum outro deus pode haver ao lado do único
Deus[2].
Nunca por toda eternidade surgiu (criado ou gerado), um ser que pudesse ser
chamado de outro Deus verdadeiro, existindo assim dois, ou três ou múltiplos
deuses.
Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, e meu servo, a
quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu
sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e
depois de mim nenhum haverá. Isaias 43.10[grifo nosso].[3]
Nem
antes nem depois. Ainda afirma que é o primeiro e o último, outra forma de
dizer que é único e que não há espaço para outro:
Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, e seu Redentor,
o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de
mim não há Deus. Isaías 44:6.
O
texto é claro, “fora de mim, não há Deus”. Tudo que o NT disser sobre Jesus
como Deus precisa estar em harmonia com Isaias 44.6. Se Jesus for um deus
gerado, ele seria um segundo Deus, gerado pelo primeiro, um ser que veio depois, é posterior a Deus. Infelizmente é exatamente isso que os
semiarianos defendem. Basta ver o que escreveu Eliseu Barros em seu livro O fim dos templos:
Ora, se ele é o Filho único gerado do Pai,
ainda que suas origens, as suas saídas, remontem aos dias da eternidade,
como descreve Miquéias no capítulo 5:2 é porque em algum momento da
eternidade, Ele, Jesus, saiu do Pai, até porque Deus, o Pai não tem princípio!
Logo, ele Jesus, é posterior ao Pai (BARROS,
2012, p. 89).
De
acordo com esta tese, em algum momento da eternidade, Deus o Pai ficou
“grávido” e Jesus nasceu. O Pai não teve princípio, não foi gerado (é
ingênito), mas Jesus teve origem. Jesus é posterior ao Pai. Como não entender
que aqui está implicado a existência de dois deuses?
A
doutrina da Trindade não comete esse disparate
teológico. Aceita a plena divindade de Jesus apoiada pela Bíblia. Assim, Jesus
como Deus é coeterno com o Pai. Não pode ter princípio ou origem, porque Deus
não tem origem. Jesus não pode ser uma “outra” divindade distinta de Deus, ou
Ele é “um” com o próprio Deus ou não é.
Será
que o título “Deus” dado a Jesus é meramente decorativo, assim, como a Bíblia aplica a Satanás, o deus deste
século? (II Cor. 4.4). Aplicaria a Bíblia, o termo “Deus” a Jesus apenas como
figura de linguagem? É evidente que não. Pois se assim o fizesse, a Bíblia em
parte alguma autorizaria a adoração a Jesus, assim como não autoriza a adoração
a Satanás, embora este seja chamado de deus. Jesus é Deus adorado (Heb. 1.5-6;
Fil. 2. 5-11). Nele habita toda plenitude da divindade (Col. 2.9).
Assim,
em harmonia com a doutrina básica de Deus (Deus é único) e por vários dados da
Revelação que afirmam a plena divindade
de Jesus como Deus; estamos respaldados pelas Escrituras a confessar este
mistério: O Pai e o Filho são eternos e são um “único Deus” (mais adiante
demonstrarei que também o é o Espírito Santo).
Somente
Deus pode ser adorado. Se Jesus é adorado então ele é Deus. O próprio Jesus
disse que só Deus, o Senhor, deve ser adorado e servido:
E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de
mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele
servirás. Lucas
4:8.
Assim, se
os semiarianos que afirmam que o Deus
único é somente o Pai, para serem coerentes, não deveriam adorar a Jesus.
Os semiarianos adoram e servem a Jesus?
Sim. Mas o texto é claro “só ao Senhor teu Deus adorará e servirás.”
Existe por acaso dois deuses e dois Senhores? A quem Jesus estava se referindo? Note que os semiarianos se complicam ao negarem
o mistério da Trindade, tentam provar que o único Deus é somente o Pai e ao
mesmo tempo adorando e servindo a um
ser que não é o único Deus, mas um outro deus gerado (segundo suas próprias
crenças). Interpretam alguns textos de forma a excluir o Filho da “divindade
única” e acabam adorando dois deuses.[4]
Se
Jesus é um deus gerado existiriam dois deuses, um gerador e outro gerado isso é
óbvio. A Bíblia se contradiz? Ensinando que somente o Senhor Deus deve ser
adorado, e em outra parte ensinando a adorar um ser que não é o único Deus? Ou
Jesus é esse único Deus, ou a Bíblia é um livro de contradições. Prefiro a
primeira opção.
Se
Jesus não for o único Deus e único Senhor e mesmo assim recebesse adoração,
estariam pecando: os homens, os anjos e o próprio Jesus. Os anjos e os homens
por adorarem um ser que não é o único Deus, e Jesus por aceitar tal
adoração. Mas, Jesus é adorado por
homens e anjos sob as ordens do Pai, que autoriza a adoração à pessoa do Filho:
E outra vez, quando
introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem.
Hebreus 1:6.
Isso deveria
ser suficiente para entendermos que estamos diante de uma grande verdade e de
um grande mistério: O Pai e o Filho são um único Deus. A Bíblia ensina que há
apenas um único Deus e um único Senhor, digno de adoração. A lista é extensa,
vou citar textualmente apenas alguns:
Ouve,
Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR.
Deut.
6:4.
Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra;
porque eu sou Deus, e não há outro. Isaías
45:22.
Porque assim diz o SENHOR que tem criado os céus, o Deus que
formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para
que fosse habitada: Eu sou o SENHOR e não
há outro. Isaías
45:18.
Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum deus há além de mim. Deut.
32:39.
E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste
que há um só Deus, e que não há outro
além dele. Marcos
12:32.
E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve,
Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor. Marcos
12:29.
E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo,
a quem enviaste. João
17:3.
A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e
Senhor dos senhores. 1
Timóteo 6:15.
Ver também: 2
Reis 19:19; Zacarias
14:9; Isaías
37:20; 1
Tim1:17; 1 Timóteo 2:5; Romanos
16:27; 2
Coríntios 11:2.
Diante
de tais evidências como alguém pode ensinar que há dois deuses dignos de
adoração? Somente seduzido por algum engano. Creio que estes textos são suficientes para
provar pelas Escrituras que Deus é único. E se o NT ensina a plena divindade de
Jesus é porque realmente ele é de fato o verdadeiro Deus que as Escrituras
falam; do contrário, ou haveria dois deuses ou o NT estaria em desarmonia com o
VT. O que implicaria que há contradição na Bíblia e que ela não é um livro
confiável. Não podemos concordar com tais conclusões.
Os
próprios semiarianos parecem concordar “teoricamente” com a verdade básica do
Deus único ao enfatizam que o Pai e este “único Deus.” Citam então alguns
textos que “parece” provar sua teoria:
E
a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviastes. João 17:3.
Mas se
contradizem ao ensinarem que Jesus também é divino e possui a mesma natureza do
Pai. A posição semiariana sobre a divindade do Filho contradiz a doutrina do
único Deus, pois o coloca como “outro deus” da mesma natureza diante do Pai.[5]
Por
esta interpretação restrita e excludente (só o Pai é o único Deus) é fácil
provar que o único Deus é o Pai e que Jesus é apenas um enviado. Outros textos
também parecem dizer a mesma coisa (Efésios 4.6; I Cor. 8.4; I Tim 2.5). Mas se
esta interpretação restrita fosse verdadeira, ela se chocaria frontalmente com
todos os textos que afirmam que Jesus é verdadeiro e plenamente Deus. Mas,
repito, esta interpretação é “estreita” demais e não se sustenta diante de um
estudo mais profundo das Escrituras. Esta interpretação restrita não é coerente
nem mesmo com a própria doutrina semiariana que diz que devemos adorar a Jesus.
Como alguém pode adorar um ser que não é o único Deus? Por acaso podemos adorar
dois deuses? Isso não é politeísmo?
Em João
17.1 a vida eterna consiste em conhecer o Pai e a Jesus. A vida eterna não
deveria ser uma concessão feita pelo único Deus? Por que é necessário conhecer
também a Jesus? Logo há mais alguém nesse único Deus além do Pai. Note que
tentar uma interpretação excludente de alguns textos não faz o menor sentido.
Alguns textos afirmam que Jesus é único
Senhor, se fossemos seguir a lógica semiariana teríamos que exclui o Pai
desta categoria. Se levarmos esse tipo
de interpretação a sério, o Pai deixaria de ser Senhor. Porque Paulo disse:
Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um
só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele. 1
Coríntios 8:6.
Por uma
interpretação restrita o único Senhor é Jesus, não o Pai. Estaria correta esta
interpretação? Os semiarianos estão dispostos a assumir tal posição? É lógico
que não. Portanto esta interpretação restrita e essa lógica capenga que nem
mesmo eles aceitam é um absurdo e conduz a erro.
Vejo no
verso acima uma evidencia a favor da Trindade. Mais de uma pessoa é o único
Deus e o único Senhor. Basta comparar com outros textos que afirmam que Javé é
o único Deus e único Senhor e que não há outro.
Jesus é Deus e Senhor “plenamente”
Ensina
as Escrituras que Jesus é Deus e Senhor?
Vejamos
outros textos que exaltam a pessoa de Jesus não como um “simples enviado” do
Pai ou um Anjo superior. Seria Jesus um anjo ou semideus?
Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este
mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. Judas 1:4.
Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja
glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém. Judas 1:25.
E
Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! João 20:28.
Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. 1 Coríntios 15:57.
Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória
do grande
Deus e nosso Salvador Jesus Cristo; Tito 2:13.
Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco
alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus
Cristo. 2 Pedro 1:1.
Mas, do Filho, diz: O Deus, o teu trono
subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino.
Hebreus 1:8.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus. João 1:1.
O NT
ensina que Jesus Cristo é o Senhor, aqui a palavra empregada e Kyrios, a mesma que a versão dos LXX[6]
utiliza para transliterar o nome de YHWH (Iahwéh). Seria Jesus outro Deus e
outro Senhor além do único Deus? Não pode haver mais de um Deus, ou mais de um
Senhor a ser adorado. Então pela força do argumento, devemos aceitar que Jesus
é um único Deus com o Pai, e não outro Deus. Esta é a verdadeira doutrina
bíblica, apenas um único Deus e um único Senhor, e Jesus é esse Senhor e esse
Deus verdadeiro junto com o Pai.
Porventura
os semiarianos desconhecem os textos que provam a plena divindade de Jesus?
Creio que não. Então como eles conciliam os textos que dizem que o único Deus é
o Pai com outros que dizem que Jesus é Deus? Bem, eles têm uma explicação não
muito criativa para escapar da contradição.
Que
tipo de Deus é Jesus? Restrito ou amplo?
O
semiarianismo alega que a palavra “Deus” pode ter dois sentidos. Assim como a
palavra homem, que pode se referir a um ser do sexo masculino (sentido
restrito) ou significar toda humanidade (sentido amplo). O termo homem poderia
ser aplicado a Adão e a Eva, com sentidos diferentes. Aplicam a mesma lógica para o termo “Deus”, ou
seja, veem dois sentidos, um “restrito” e outro “amplo”. O sentido restrito é
para o Pai, que é Deus no sentido absoluto. O sentido amplo ou lato é aplicado
a Jesus.
O
raciocínio semiariano procura seguir a seguinte lógica:
1.
O
termo Filho do homem e Filho de Deus aparece abundantemente nas Escrituras,
numa quantidade maior do que os que dizem que Jesus é Deus.
2.
O
Termo Deus pode ser usado no sentido restrito e no sentido amplo.
3.
O
termo Deus no sentido amplo é aplicado a Jesus.
A primeira
declaração está correta. Os textos que declaram Jesus como Filho de Deus
são mais abundantes que aqueles que declaram Jesus ser Deus. Mas a questão doutrinária
não é como a política, quando quase sempre quem manda é a maioria. O argumento
da quantidade é insuficiente. A segunda
declaração procura explorar o sentido
“restrito e amplo” que alguns termos podem ter. Realmente a Bíblia emprega o termo “DEUS” para outros
seres de forma figurada ou no sentido amplo, como no caso de Moises, dos deuses
pagãos e do próprio Satanás. O problema está na terceira declaração, que afirma que o termo Deus no sentido amplo é
aplicado a Jesus.
Da mesma forma, a palavra “Deus”
pode assumir um significado restrito ou amplo. No sentido restrito, é correto
dizer que apenas o Pai é Deus – assim como dissemos que só Adão é homem. A
palavra “Deus no sentido amplo pode significar ser de natureza divina (assim
como “homem” no sentido amplo significa ser de natureza humana)”. Nesse caso é
correto dizer que Jesus é Deus. Nicotra (2008, p. 86).
Para o
semiarianismo, todas as vezes que a Bíblia chama Jesus de Deus quer dizer que
ele é um ser “divino” (sentido amplo). Não que ele seja o único Deus (sentido
restrito). O fato da Bíblia mostrar que o termo “Deus” pode ser usado num
sentido amplo, não prova que foi usado ou aplicado a Jesus nesse sentido. O
título Deus é utilizado nas Escrituras com o sentido amplo sim, mas não se
aplica a Jesus. Analisemos o texto usado para justificar o argumento.
“Responderam os judeus: Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra, mas pela
blasfêmia, porque você é um simples homem e se apresenta como Deus". Jesus
lhes respondeu:
Não está escrito na Lei de vocês: Eu disse:
Vocês são deuses? Se ele chamou “deuses” àqueles a quem veio a palavra de Deus
(e a Escritura não pode ser anulada) que dizer a respeito daquele a quem o Pai
santificou e enviou ao mundo? Então, por que vocês me acusam de blasfêmia
porque eu disse: ‘Sou Filho de Deus’? João 10:33-36.
Jesus é um Elohim?
Notem
que o termo “deuses” (no
hebraico Elohim, no grego Theos), foi usado no sentido amplo para
designar “os ouvintes da palavra de Deus”.
Mas Jesus não é ouvinte da palavra, Ele é a Palavra (João 1.1). Portanto
o termo deus (divino) no sentido amplo ou figurado, não é aplicável a Cristo.
Nosso
objetivo ao citar o episódio de João 10 foi mostrar que Cristo tentou trazer à
mente dos judeus o sentido amplo da palavra “Elohim” traduzido como Deus.
Cristo lançou mão das Escrituras onde a Palavra de Deus referia-se a seres
humanos mortais (NICOTRA, 2008, p. 87).
Estamos
completamente de acordo com parte do argumento do autor antitrinitário. Jesus deu um exemplo bíblico em João 10 onde
Elohim (Deus) foi utilizado no sentido amplo. Mas quem eram esses deuses?
“Aqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus”. Existe uma enorme diferença
entre aqueles que são chamados de deuses (no sentido amplo do termo) para o
Filho, segunda pessoa da Trindade. Nenhum ser chamado de “Elohim” ou “Theos”
(no sentido amplo) recebe qualquer tipo de “adoração legítima” enquanto que
Jesus recebe. Jesus não pode ser Deus no
sentido que eles são (no sentido amplo do termo).
Exemplos
onde o termo “Deus” foi usado no sentido amplo:
1. Pessoas à quem foram dirigidas a
palavra de Deus (João 10.33).
2. Moises
(Êxodo 7.1).
3. Anjos
(Salmo 8.4 e 5; Hebreus 2.6 e 7; Genesis 3.30).
4. Satanás
(II coríntias 4.3-4).
5. Deuses
pagãos.
Nenhum
desses “deuses” (sentido amplo) recebeu adoração legítima. Quem almeja tal
adoração é um usurpador de prerrogativas do único Deus.
Jesus é um semideus?
É Jesus
um Deus no sentido amplo do termo? Se fosse, não poderia receber adoração.
Porque somente o verdadeiro Deus pode ser adorado. Essa interpretação é
preocupante e conduz a um erro teológico dos maiores: “há dois deuses”. Um Deus
(sentido restrito) e outro Deus (sentido amplo). Um Deus absoluto, e outro deus
não absoluto. Isso implica que Jesus é menor ou inferior ao Pai, uma espécie de
deus menor. Onde está o discernimento espiritual dos semiarianos?
Os
semiarianos percebem o perigo da sua interpretação e por isso procuram amenizar
o impacto com as seguintes explicações:
Quando
afirmamos que Cristo é Deus no sentido amplo da palavra, sendo que o único Deus
no sentido restrito e absoluto é o Pai, não estamos afirmando que Jesus seja um
deus de qualidade inferior ou semideus. (...) Assim como a mulher não é um
homem (ser humano) inferior por ser homem apenas no sentido amplo, não podemos
dizer que Jesus seja um deus de qualidade inferior por ser Deus no sentido
amplo da palavra. (Idem., p. 88).
A
explicação não consegue resolver o problema.
Vamos considerar o argumento semiariano:
1.
Adão é homem (stricto-macho). Tem natureza humana.
2.
Eva é homem (lato-humano).Tem natureza humana.
Conclusão:
Eva é tão humana quanto Adão. [Corretíssimo].
O erro
está em fazer este tipo de analogia com relação a Deus. Vejamos o argumento aplicado a Deus:
1.
O
Pai é Deus (restrito-absoluto). Tem a natureza divina.
2.
Jesus
é Deus (amplo-não absoluto). Tem a natureza divina.
Conclusão:
Jesus é tão divino quanto o Pai (assim como Eva é tão humano quanto Adão). [ERRO
GRAVE].
Qual o problema
aqui?
A questão é que não há nenhum problema
em Adão e Eva seres dois seres “humanos” distintos. A raça humana e composta por bilhões de seres
humanos. A raça humana não é mono (um) só ser humano, mais poli (mais de
um, vários) seres humanos. Há bilhões de seres humanos. E quanto a Deus? Deus é
politeísta? Há vários deuses verdadeiros? Não, Deus é um só (mono). O problema do
argumento semiariano é usar uma lógica que funciona apenas para seres “poli”. Quando
tentam usar essa lógica em relação a Deus, que é “mono” (único) a coisa não
funciona. O Pai e o Filho não podem ser duas “divindades” distintas, como Adão
e Eva são dois seres humanos. A analogia é totalmente inadequada, pois equivale
a dizer que existem dois deuses, assim como Adão e Eva são dois seres humanos.
Percebe
as implicações teológicas envolvidas aqui?
Quando
a questão é tratar da natureza humana o caso (o sentido amplo e restrito)
funciona muito bem. Mas quanto passa a falar de Deus e da natureza divina o
exemplo não funciona. A conclusão é que, Jesus é tão divino quanto o Pai,
porque tem a mesma natureza do Pai. Mas é outro Deus, distinto do Pai. Ensina
porventura a Bíblia que existem dois Deuses adoráveis no universo? A Bíblia diz
que só há um único Deus.
Numa
tentativa de provar que Jesus não é o verdadeiro Deus, os semiarianos, procuram
citar passagens das escrituras que enfatizam que o Pai concedeu ao Filho
autoridade, domínio, exaltação, senhorio, e vida dentre os mortos. Ver: Luc
22.29; Apóc. 2.26 e 27; Fil. 2.9; At 2.36; At 5.30 e 31; At 2.24 e 32; Jo 5.26
e At 10.42.[7] Mas isso
em nada ajuda, só complica ainda mais a tese semiariana.
Este é
um esforço para provar que Jesus só é “divino” porque o Pai “consentiu” que ele
fosse divino. Ou seja, somente o Pai é Deus de forma absoluta, o Filho é Deus
por “concessão” ou “participação” na
natureza divina.
Todo
este esforço é vão e não corrobora em nada para dar sustentação a tese
semiariana. Pelo contrário, só aumenta ainda mais o contraste entre o Pai e o
Filho, provando que são dois deuses distintos, revelando sua total
“contradição” com as Escrituras. Lembre-se,
a verdadeira doutrina precisa estar de acordo como o princípio básico da
doutrina de Deus: “Deus é único”. Fugir deste princípio é cair em heresia.
Doutrina de dois deuses
A
doutrina semiariana implica na adoração a dois deuses: um Maior (absoluto), o
Pai; e outro deus (derivado ou por concessão), o Filho.
Vamos ilustrar suas crenças num
gráfico simples:
DEUS
O PAI DEUS FILHO
(ABSOLUTO) NASCIDO
Quantos
deuses existem? Quantos deuses os semiarianos adoram?
Ao
analisar os ensinos semiarianos percebemos nitidamente que os mesmos
encontram-se em erro ao ensinarem adoração a “dois deuses distintos”.[8]
A
doutrina da Trindade diz que Deus é “único” em conformidade com as Escrituras.
Boa parte dos antitrinitários ensinam equivocadamente que a Trindade é adoração
a três deuses. Afirmam por ignorância
ou por falta de alguma virtude cristã.
De qualquer forma, a doutrina da Trindade afirma que só há um único Deus
(em três pessoas e chama de mistério). Os antitrinitários acusam os
trinitarianos de politeístas, por adorarem um Deus (em três pessoas), mas eles
próprios não se colocam nessa categoria, embora adorem dois deuses. É muita
falta de coerência. É como se quisessem corrigir os outros, mas não corrigem a
si mesmos. O conselho de Jesus é apropriado “tira a trave do teu olho...”.
A
doutrina bíblica ensina que existe apenas um único Deus. O Pai é identificado
como o único Deus. Ensina ainda que
Jesus é Senhor e Deus. É Jesus outro Senhor e outro Deus distinto do Pai? Não
pode ser outro Deus, pois isso poria as Escrituras em contradição. Então só nos
resta uma alternativa: confessar que Ele e o Pai são um único Deus. Que Jesus,
O Logos eterno, é coeterno e consubstancial ao Pai, embora sejam duas pessoas
distintas. A distinção é de hipóstase[9]
não de essência.
Vamos
explorar no próximo capítulo as implicações práticas de se adorar duas pessoas
divinas em vez de uma. Depois avançaremos mostrando os erros dos argumentos
semiarianos contra a pessoa do Espírito Santo;
fornecendo respostas esclarecedores a cada aspecto contraditório. Mas,
pelo que já foi constatado até aqui, os semiarianos já começaram muito mal,
totalmente contradizendo a Palavra de Deus, violentando o princípio mais básico
da doutrina de Deus, sua unidade. Assim, já poderia ser descartada como
explicação inapropriada. Concluímos que a verdade que pretendem defender é uma
verdade aparente.
_______________________
[1]
Pois, embora ensinem que o único Deus é o Pai, também ensinam à adoração a
Jesus.
[2]
Embora em João 1.1 se diga que o Verbo estava com Deus e o verbo era Deus, em
nenhum momento é dito que ele era um “outro
Deus,” mas apenas, “Deus”.
[3]
Todos os grifos que estiverem em negrito e em
itálico ao mesmo tempo, em textos bíblicos ou em citações de autores,
doravante considerar “grifo nosso”.
[4]Que
o Pai e chamado de único Deus nas Escrituras é notório e indiscutível. Mas isto não é toda a Revelação. Pois outros
textos dizem que Jesus é Deus, e que é o “único Senhor”. Por Jesus ser o único
Senhor, significa que o Pai não é Senhor? Estes textos para fazer sentido precisam
ser compreendidos de uma forma inclusiva e não excludente. Para não cair em politeísmo é necessário aceitar a posição Trinitariana.
[5] “Quando
afirmamos que Cristo é Deus no sentido amplo da palavra, sendo que o único Deus no sentido restrito e
absoluto é o Pai, não estamos afirmando
que Jesus seja um deus de qualidade inferior ou ‘semi-deus’”. Nicotra (2008, p. 88).
[6]
Versão grega das escrituras hebraica, conhecida como Septuaginta ou LXX,
conhecida dos apóstolos que dela fizeram uso ao escreverem o Novo Testamento.
[7]
Estes textos são melhores compreendidos quando entendermos que o Filho de Deus
possuía duas naturezas. Uma divina e outra humana. As pessoas da Trindade têm
funções semelhantes e diferenciadas na vida interna da Trindade, e em função do
plano da salvação, foram reveladas. A
subordinação do Filho ao Pai não é essencial, mas funcional.
[8]
Eles procuram fugir dessa conclusão, mas é inteiramente impossível.
ESTE É O CAPÍTULO 2 DO LIVRO "A DOUTRINA DA TRINDADE: RESPOSTA AO SEMIARIANISMO ANTITRINITARIANO. PARA ADQUIRIR O LIVRO ACESSAR: http://www.clubedeautores.com.br/book/143003--A_Doutrina_da_Trindade
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