sábado, 18 de maio de 2013

A Doutrina da Trindade: resposta ao semiarianismo

INTRODUÇÃO
Para o cristão conservador ou fundamentalista a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo (II Ped.1: 21). É  a norma e fonte autoritativa em questões doutrinárias. Por meio dela Deus se revela como o único Deus verdadeiro. A especificidade da religião revelada em relação às religiões pagãs consiste em adorar um único e verdadeiro Deus. Os verdadeiros adoradores, desde a época de Abraão, Isaque e Jacó adoraram um único Deus (Deut 6.4). Eram, portanto monoteístas, enquanto que os povos das nações eram politeístas. Assim, para a fé monoteísta é inconcebível a existência de múltiplos deuses. O próprio Deus revelou isso no coração da lei mosaica: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20:3). Nesta perspectiva, somente o Deus verdadeiro e único é digno de adoração e nenhum outro deveria ser adorado: nem anjos, nem homens, nem criatura alguma que não seja o “único Deus”.

Porem, o Novo Testamento (NT) nos revela uma “segunda” pessoa divina distinta do Pai: o Filho de Deus. Ele recebe  adoração e louvores. Ele é o Logos de Deus que era Deus (João 1.1). Também apresenta o Espírito Santo como um ser divino, pessoal, intimamente relacionado com o Pai e o Filho, porem distinto de ambos. Ele é o outro Consolador prometido por Cristo a seus discípulos. Os dados estão na revelação, porem não nos foi explicado conceitualmente como pode existir um único Deus e ao mesmo tempo haver três pessoas divinas. Sabemos que o NT não foi escrito na forma de um manual doutrinário ou compêndio de teologia sistemática, e assim não encontramos a doutrina de Deus e das três pessoas divinas conceituada na Bíblia. Essa ausência de conceituação doutrinária ocorre em relação a outras doutrinas. É notório que o NT não foi escrito no formato de uma “enciclopédia teológica”, contendo as crenças da igreja cristã sistematizadas. As verdades doutrinárias estão quais joias dispersas por toda a Bíblia, e precisam ser reunidas, organizadas, conceituadas para ter sentido e assim formar um corpo doutrinário coerente. Como disse Isaias: “Porque é mandamento sobre mandamento, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, regra e mais regra, um pouco aqui, um pouco ali.” Isaías 28:10. A tarefa de reunir os dados,  organizar e conceituar a doutrina cristã,  coube a um período posterior; e cabe a cada um de nós, averiguar se esta tarefa foi bem feita ou não. Precisamos saber por nós mesmo se a doutrina cristã é defensável à luz da Bíblia ou se é mera tradição sem embasamento bíblico.

A necessidade de explicar a doutrina de Deus surge com toda força no período pós-apostólico. Principalmente porque o mundo grego-romano estava ouvindo o evangelho; o evangelho que dizia que um judeu do século I era Deus (João 1.1). Isso precisava ser conciliado com o conceito de “um único Deus”. Explicar de forma coerente não foi fácil e surgiram várias tentativas; mas não foram aceitas por negarem um ou outro aspecto da Revelação. Era preciso uma “fórmula” que pudesse explicar e harmonizar todos os dados da revelação sem entrar em contradição. Esta questão alimentou os debates teológicos durante os cinco primeiros séculos da história da Igreja. A explicação prevalecente foi resumida numa fórmula conhecida como Trindade. [1]

Em alguns momentos da História da Igreja grupos heréticos surgiram ensinando ideias distorcidas e rejeitando a doutrina da Trindade.  Atualmente seus herdeiros tem procurado semear tais ideais qual joio no campo do Senhor. O resultado tem sido cristãos renegando suas crenças, abandonando suas congregações para se unirem a grupos antitrinitarianos, e o pior, renegando a verdade revelada. Estas correntes são conhecidas como: unitarianos, unicistas, arianos e semiarianos. Todos estes negam a Trindade em algum aspecto; ora suas ideias se assemelham, ora se diferenciam entre si, havendo variantes mesmo numa mesma corrente.

Este texto tem como objetivo analisar os principais argumentos antitrinitários, em especial a corrente semiariana e oferecer uma apologética (uma defesa da fé) Trinitariana. Entendemos que certo “zelo” misturado à falta de conhecimento tem sido a causa de tantos serem levados por estes ventos de doutrinas. Às vezes até se tem algum conhecimento, mas superficial e mal organizado. A apologética é útil ao fornecer aos cristãos argumentos precisos, organizados e eficientes. É importante saber defender eficazmente a fé cristã para o nosso benefício espiritual e para preservação da sã doutrina.  Não devemos ser havidos por debates, mas devemos estar preparados para eles. Veja o que escreveu o apóstolo Pedro: “Antes, santifiquem Cristo como Senhor no coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês”. 1 Pedro 3.15.

Quando desafiado a explicar a doutrina da Trindade você consegue fazê-lo com coerência? Consegue reunir um conjunto de textos bíblicos e fazer uma exposição bem fundamentada? Quando um unicista, ariano ou semiariano o desafia com argumentos que negam a Trindade, você consegue respondê-los com um claro “assim diz o Senhor”? Ou diz que vai consultar um especialista? Creio que não precisamos fazer uma “cruzada” aos antitrinitarianismo, mas quando chamados a dar testemunho da nossa fé, ou quando percebermos que pessoas queridas estão precisando de ajuda, não devemos retroceder.  

Que corrente doutrinária consegue explicar melhor a doutrina de Deus? O antitrinitarianismo ou o Trinitarianismo?  Uma boa doutrina de Deus deve contemplar “todos” os dados da revelação, reunindo e formando um todo harmonioso. Deve ser coerente do começo ao fim de sua exposição. Tem que argumentar de forma clara e em harmonia com a Bíblia, com o cuidado de não violar as Escrituras. Veja abaixo vários aspectos (entre outros) em que o semiarianismo violenta as Escrituras:

a)      Destrói a unidade do Deus único.

b)      Adora mais de um Deus.

c)      Cai em politeísmo.

d)     Nega a plena eternidade do Filho de Deus.

e)      Quebrar o 1º mandamento da lei de Deus.

f)       Nega a personalidade do Espírito.

g)      Impede que Deus habite no salvo.

         Nos dias de hoje, são pouco as pessoas de espírito autônomo, investigadores da Palavra, a maioria apenas repetem o pensamento alheio. Isso ocorre em ambos os lados; há trinitarianos que nunca estudaram profundamente a doutrina, e antitrinitarianos que só sabem repetir o que ouviram em algum DVD ou leram em alguma página da web. Estas pessoas não precisam ser condenadas ou perseguidas, mas precisam ser corrigidas de forma sábia, amorosa e verdadeira. Caso não se convertam à verdade, devem estar preparadas para sofrer a disciplina eclesiástica de suas denominações de origem. Pois nenhum sistema organizado tolera dissidências.  O primeiro dissidente foi Satanás no céu. O sistema de governo do céu não tolerou sua dissidência, após fracassar todos os esforços para convencê-lo dos seus erros. Ele foi expulso do céu porque não comungava do mesmo espírito e não compartilhava dos mesmos ideais. Talvez preferisse continuar no céu, na congregação dos justos, para enredar mais anjos em seu engano. Deus sabiamente o expulsou.

O que é uma heresia? É uma mistura ou combinação de ideias verdadeiras com ideias falsas. Geralmente ocorre quando se enfatiza exageradamente um aspecto da verdade em detrimento do restante. Por exemplo, a Bíblia diz que a salvação é pela graça mediante a fé. Mas também diz que a fé sem obras é morta. Podemos enfatizar tanto a justificação pela fé ao ponto de acharmos que não há necessidade de obedecer aos mandamentos de Cristo. Ou enfatizar as obras ao ponto de cair no legalismo. Uma heresia pode ser muito convincente, pois se baseia em parte da verdade. É necessário ter muito discernimento para não cair no erro.

Quando uma heresia é propagada no seio da igreja de Cristo ela quebra a unidade da fé. Começam as disputas e o espírito de crítica e partidarismos toma conta dos irmãos, que antes viviam harmoniosos. Nem sempre é possível ter todos os crentes unidos em todos os aspectos doutrinários. Isso não deveria incomodar a liderança da igreja. Toda igreja tem seu corpo de doutrinas básicas. Creio que não há problema que tenhamos ideias particulares sobre determinado assunto, desde que não divirja das crenças cristãs fundamentais e que não se faça proselitismo das mesmas. Se suas opiniões são significativamente divergente das defendidas pela igreja na qual congrega e não consegue guarda-la para si, creio que deveria ser honesto e procurar outra congregação com a qual possa se identificar. Ficar na igreja discordando e criticando de tudo e de todos, a fim de receber a merecida exclusão do rol de membros e  alegar que foi perseguido por causa do evangelho, no mínimo de parece artimanha diabólica.

Nesta obra não faremos uma apresentação sistemática da doutrina da Trindade[2]. Nosso método consistirá em analisar os principais argumentos semiarianos à luz da verdade bíblica, demostraremos como o semiarianismo é autocontraditório e incompatível com a Bíblia. Assim, oportunizaremos aos cristãos trinitários o aprofundamento de seus conhecimentos, e aos semiarianos uma auto reflexão.

 A doutrina de Deus não é assunto fácil. Mas sem dúvida é de suma importante. Às vezes, poderá ocorrer que precise reler certos trechos deste livro, para captar melhor as ideias aqui tratadas. Leia todos os textos citados, em sua própria Bíblia quantas vezes for necessária. Ore a Deus e peça seu Espírito Santo para te conceder sabedoria e discernimento. Um assunto difícil merece atenção e oração especial. No dia final, todos individualmente teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo.



[1] Sobre a história da doutrina ver capítulo 11 deste livro.
[2] Para este fim, ler:  WHIDDEN, Woodrow; MOON, Jerry; REEVE, John W. A Trindade: como entender os mistérios da pessoa de Deus na Bíblia e na história do cristianismo. 2. Ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2006.

ESTA É A INTRODUÇÃO DO LIVRO A DOURINA DA TRINDADE:RESPOSTA AO SEMIARIANISMO ANTITRINITARIANO. PARA ADQUIRIR A OBRA ACESSAR: http://www.clubedeautores.com.br/book/143003--A_Doutrina_da_Trindade